Interessante
matéria da Revista de História da Biblioteca Nacional sobre o Dia do Professor. O Dia do Professor
é feriado no Brasil desde os anos 1960. De lá para cá, o país mudou muito, mas
os profissionais continuam mal remunerados, com uma carga horária de trabalho
desgastante e desvalorizados socialmente.Angélica Barros e
Antonio Carlos Jucá
Quem quer ser professor no Brasil? Poucos.
Nos dias de hoje, somente 2% dos alunos do ensino médio mostram-se interessados
na carreira docente, embora 1/3 deles tenha pensado, em algum momento, em
segui-la. As razões para tanto desinteresse vão desde a baixa remuneração, à
rotina desgastante ou mesmo à desvalorização social. Ser professor é um mau
negócio. O resultado é que, hoje, faltam mais de 700.000 professores nos
ensinos fundamental e médio.
Aqui, diferente de países como EUA, China e Índia,
o Dia do Professor é feriado oficial. Comemorado no dia 15 de outubro, foi
instituído nacionalmente em 1963 no governo de João Goulart. Seu início remete
à década de 1930, quando grupos de professores católicos organizaram
iniciativas para comemorar o “Dia da Mestra” e o “Nosso Primeiro Mestre”
lançado pela Associação de professores Católicos do Distrito Federal (Rio de
Janeiro, naquela época). A data - consagrada à Santa Tereza D’Ávila,
religiosa e escritora reconhecida, proclamada Doutora da Igreja pelo Papa Paulo
VI -, é associada ao Decreto Imperial de D. Pedro I, em 1827. Nele, o imperador
ordenava a criação de escolas de “Primeiras letras” em todas as cidades, vilas
e lugares mais populosos do Império.
A criação de um dia comemorativo não significou,
contudo, a valorização do professor. Sem dúvida, se olharmos de 1963 para cá, o
Brasil avançou em muitos aspectos na educação: diminuiu consideravelmente o
analfabetismo, colocou a quase totalidade da população infantil na escola e
aumentou consideravelmente o ensino universitário. Tais avanços, no entanto,
foram insuficientes e a educação brasileira é, ainda hoje, uma das piores do
mundo. A principal razão disso é o desinteresse pelo magistério. Os melhores
alunos tendem a se direcionar para carreiras mais bem remuneradas. Resultado:
muitas vezes falta uma formação sólida àqueles que devem ensinar.
Outro problema real é a desvalorização social: nas
escolas privadas é comum os professores ouvirem dos alunos que seus pais ganham
mais ou que eles, professores, são seus empregados. Nas escolas públicas, a
desvalorização vem quase sempre do desconhecimento, por parte dos próprios
pais, da importância da educação. Junte-se a isso uma rotina desgastante, que
inclui uma enorme carga horária de trabalho, dentro e fora de sala de aula.
Tudo isso ocorre no momento em que o Brasil sofre
com a falta de mão de obra qualificada em todos os setores. Surge aí um
estranho paradoxo: quanto maior a carência de mão de obra, maiores os salários
nos diversos setores e, portanto, menos atrativa se torna a carreira do
magistério. É preciso educar a população, mas quem vai fazê-lo?
O governo federal vem tentando responder a essa
questão com o estímulo à docência. Por um lado, apoiando a multiplicação das
licenciaturas. Por outro, concedendo bolsas e criando programas de incentivo à
formação de professores. Falta ainda, no entanto, o reconhecimento expresso
numa carreira estruturada e numa remuneração adequada.
Em um contexto tão negativo, poderíamos imaginar
que os professores fossem uma espécie em extinção. No entanto, eles somam quase
2 milhões de profissionais em todo o Brasil, ensinando mais de 50 milhões de
alunos. Nos últimos anos, a qualificação de grande parte dos docentes tem
aumentado: percebe-se que eles respondem positivamente quando estimulados e
apoiados.
Magistério não é sacerdócio, mas é vocação. Há uma
magia indescritível em ensinar, que sem dúvida move a maior parte de nossos
mestres a seguir em sua profissão. Há material humano. Há vontade de ensinar e
aprender. O que falta é valorizar o professor não somente no seu dia, mas
durante todo o ano.
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Alessandra