domingo, 30 de outubro de 2011

DEUS...

 POR LUIZ FERNADO VERÍSSIMO

Um cenário limpo. Fundo azul. Deus fala para a câmera.
"Meus filhos, boa noite. Eu sou Deus Vosso Senhor. Se me permitem a imodéstia, acho que não preciso me apresentar. Meu currículo é conhecido de todos. Criador do céu e da terra, etc. A minha vida é um livro aberto, e se chama Bíblia. Minha assessoria me advertiu que estaria havendo uma certa falta de comunicação entre nós e que existiriam algumas dúvidas sobre o meu trabalho, os meus métodos - enfim, sobre qual é a de Deus, afinal. Por isto, optamos por este formato de uma conversa descontraída, sem trovões, sem relâmpagos, sem efeitos especiais ou anjos com clarins, apenas um papo informal entre Criador e criaturas.
Antes de mais nada, quero esclarecer que, ao contrário do que alguns jornais andaram publicando, escolhi a Globo para falar com vocês do Brasil por uma razão muito simples, que não tem nada a ver com ibope, cachê, favoritismo ou qualquer prevenção com o Ratinho. É que o dr. Roberto foi o único que me contatou diretamente.
E aqui estou eu para responder às suas perguntas. Sei que muitas vezes o que eu faço parece incompreensível. Quantas vezes você não se perguntou por que eu fiz isto ou aquilo, não é verdade? Quantas vezes, quando estragou o ar condicionado no cinema ou o filme saiu de foco, você não olhou para o alto e disse "Ó, Deus!", cobrando uma providência divina? Quantas vezes você se perguntou por que existem os desastres naturais, e a caspa, e aquele nervinho da carne que fica preso entre os dentes, e o Sérgio Naya, e os alarmes de carro que disparam e não aparece ninguém para desligar, e a colher que cai dentro do molho e depois lambuza a mão, e a doença, e a morte, e o IPMF? Por que alguns tiram a sena acumulada e eu não ganho nem rifa? Qual é a de Deus, afinal? Pensam que eu não sei? Eu sei de tudo. Sei o que você pensa a cada minuto. Pelas minhas costas ninguém fala!
Posso responder a todas as suas perguntas. O caso do "El Niño", por exemplo. Como todos sabem, o tempo é o maior problema da minha administração. Requer uma organização imensa, difícil de controlar, e os encarregados nem sempre estão à altura das suas tarefas. Mantenho o São Pedro na chefia do setor porque foi um dos nossos primeiros companheiros, mas há muito ele perdeu seu interesse no trabalho e o resultado é que o clima do mundo está essa confusão. Estamos tentando melhorar, no entanto, e pensando, inclusive, em terceirizar o serviço, e em pouco tempo tudo voltará ao normal. Aproveito a oportunidade para dizer que são infundadas as notícias de que um meteorito se chocará com a Terra em breve e a destruirá. Não temos nenhum plano de acabar com a Terra num futuro próximo, inclusive porque ela tem um grande valor sentimental para nossa família.
Selecionei algumas cartas para responder no ar. A Ivani, de Londrina, Paraná, me pede para arranjar um encontro dela com o Fábio Junior. Ivani, acho que você não pegou bem o espírito do programa. E o Leôncio, de Santo Antônio, no Rio Grande do Sul - velho Antônio - escreve: "Gostaria que o Senhor explicasse para que existem as unhas do pé." Aí está, uma pergunta objetiva e séria. Para que servem as unhas do pé. Deixa ver. As unhas do pé, por que eu criei as unhas do pé... Faz tanto tempo... Mas vejo que o nosso tempo está se esgotando. Mandem as suas cartinhas! Tentarei explicar todos os meus atos numa linguagem acessível, sem tecnicalês, que qualquer leigo pode entender. Se preferir telefonar, o prefixo do céu é 02, porque 01 são os Estados Unidos. Só não atenderei se estiver em reunião. Ou então usem meu e-mail, Poderosíssimo@com.ceu.
Até a próxima, e fiquem comigo."

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Alessandra